terça-feira, 16 de março de 2010

AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO MARACATU DE BAQUE SOLTO


[.....] O Maracatu Rural é um folguedo, uma manifestação coletiva, em que as pessoas assumem e vivenciam determinanda representação, com seus personagens e histórias( Benjamim, 1989). Sua apresentação é composta pelo desfile de uma corte real, baianas e arreiamás ou tuxunas (caboclo com um cocar de penas de pavão), rodeados pelos caboclos de lança e complementados por personagens como o Mateus, A Catirina e a Burra.
Estes personagens dançam ao som de uma orquestra de percussão e metais (cuíca, caixa, surdo, gonguê, trombone) que toca entre desafios de versos improvisados pelo mestre do grupo. O folguedo é ligado ao período carnavalesco, época em que seu sentido social junto à sua comunidade de origem se torna mais vivo.
Algumas características que atualmente distinguem o Maracatu de Baque Solto:
- Os Caboclos de Lança chamados por Olímpio Bonald Neto(1991) de Guerreiros de Ogum, são personagens com figurino singular que misturam óculos escuros e tênis e bermudões de chitão, uma grande gola bordada com lantejoulas que cobre todo o tronco até o joelho, e um chapéu de grande cabeleira colorida.
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- O Caboclo de Pena ou Arreiamá, personagem em que a herança indígena é mais evidente, usa gola bordada e lantejoula e cocar, comum entre os caboclinhos da Zona da Mata.
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- O Desafio de Versos Improvisados realizado pelo mestre do maracatu durante a apresentação do grupo; os versos podem tanto agradecer a acolhida da cidade ou grupo que organiza a festa, como também exaltar as características do maracatu. No período que antecede oc arnaval, os mestres se encontram em sambadas para finar o improviso, realizando desafios.

- O Baque Solto, ritmo característico e estridente que intercala as poesias improvisadas dos mestres que desafiam os outros e exaltam as suas próprias qualidades e as de seu maracatu. Maria Elizabete Assis(1996) anotou a designação de Samba de Matuto para a música deste maracatu. Ascenso Ferreira (1986) registrou que em sua infância os maracatus eram chamados de Dança de Matuto.
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O CABOCLO ARREIAMÁ O CABOCLO ENCANTADO

“ No Maracatu, há um caboclo que não usa lança.ele não parece estar preparado para a guerra. Em suas mãos, tem um machado e sua cabeça é ornada com um grande cocar e penas.É o caboclo Arreiamá. Todo Maracatu tem um ou vários. Quem é esse índio que faz parte da corte, no Maracatu de Baque Solto e no Maracatu de Baque Virado.”

[.....] Os folgozões referem-se se a ele como o “ índio do Macaratu”, porque, dizem, no começo havia índios.

O arreiamá não faz a guerra, isso é como o lanceiro. O arreiamá é a representação da ligação mais primária com as forças da natureza, a inocência da terra antes das guerras que destruíram as tribos. [.....]

O arreiamá, também chamado de Tuxana, usa camisa bordada, calça na altura dos joelhos, e, na cintura tem fitas e penas de pássaro, nos chapéus, nos braços e nas pernas. No Maracatu, a atividade do caboclo arreiamá é proteger a corte, o casal real, a dama do preço, as baianas. Uma proteção dos espíritos da floresta. [.....] Sua presença mostra a riqueza da tribo.O Arreiamá poderia ser uma lembrança do tempo em que se pensou ser possível a convivência com o português. O arreiamá é o índio que parece mais ligado aos aspectos da religião, dos segredos da jurema. No Maracatu de Baque Virado, os caboclos de pena são vistos como sendo ligados da religião da jurema. O Mestre Duda diz que sem o Arreiamá no maracatu ela está perdido, não tem a visão.

A ROUPA DO CABOCLO

“ A Roupa do Caboclo de Lança é chamada de arrumação, cada um cuida de sua. No começo era uma tribo pobre, como conta o Mestre Zé Duda, do Estrela de Ouro de Chã de Câmara.

....a roupa, antigamente, era chita. Dessa roupa que cobre o boi. Era chita. Hoje em dia, nem boi quer ser coberto de chita. Não. Hoje um caboclo quando vem para brincar de caboclo, ele vem com uma roupa estampada, toda bonita vai para a festa. E, naquele tempo não era. Era de chita, tipo Mateus.

O caboclo e lança se vestia bonito, mais simples. O mestre Zé Duda diz que:

“Não tinha gola bonita não.

No carnaval. Era funí.

Era tipo chapéu de Mateus.”

O SURRÃO

Preso nos ombros está o Surrão, com chocalhos pingentes, que Cambinda Brasileira, Caboclo de 70 anos de idade, dizia com alegria. Só tiro o surrão quando morrer. [.....] Nos dias d festa, o som que marca os passos do caboclo é uma lembrança da existência de um povo que parecia não mais existir. Ele orgulhoso, informa que está vivo e que continua sendo senhor dos seus sonhos. [.....]

A CABELEIRA

Nos dias de hoje, apenas o Mateus continua como chapéu- de- funil. A cabeleira foi crescendo com o tempo, enfeitando de papel celofane, cobrindo e colorindo o chapéu de palha. Tão comum na região. Hoje em dia uma tiara pode chegar a 700, 800 pedaços de fitas. [.....]

O ROSTO

É quase um possível ver o rosto do caboclo. O chapéu de tiara com sua cabeleira cada vez mais vasta, deixa pouco a ver . Um lenço protege o couro cabeludo e a testa da aspereza do chapéu. O caboclo tem sempre o rosto pintado de urucum, escondendo o que o lenço estampado deixa à mostra. [.....]

E tem uma rosa ou um cravo na boca: uma flor, um compromisso, um segredo. Cada qual tem o seu, uma escolha sua, uma promessa. É uma flor preparada, alguns caboclos a colocam em um copo d’água. [.....]

A GOLA

Por cima das roupas e do surrão é colocada a gol. O maior orgulho d um caboclo, o mais belo triunfo, que antes, como diz o Mestre Duda: Era um pedacinho deste tamanho aqui, que nem um babador de criança e fim de papo.

Hoje ela tomou tamanho e cobre o copo do caboclo, quase se arrastando pelo chão. O seu tamanho e esplendor foram crescendo no contato com a cidade grande no encontro com o Maracatu de Baque Virado e se adaptando aos espetáculos que vem se tornando o carnaval para a televisão. [.....]

No começo as golas era feitas de vidrilhos, o que as tornava extremamente pesadas para alcançar o brilho desejado. [.....]

Depois, com as lantejoulas, as golas tornaram-se mais brilhantes e passavam a ser vistas a maior distância. [.....]

A cada ano lanceiro ( grifo nosso) como também é chamado o caboclo de lança, fica mais brilhante sendo o motivo de seu próprio orgullho e de suas tribos dispersas.

A LANÇA

A lança ou guiada é a companheira do caboclo. É com ela que Ele protege sua tribo.

A guiada é enfeitada com fitas de cores diversas, podendo ter de 80 a 100 metros de fita.

A desenvoltura que o caboclo apresenta no manuseio deste elemento é o que o faz ser respeitado pelo outro caboclo. [.....]

Se uma mulher passa por cima da guiada, este instrumento perde seu poder. Alguns

Caboclos costumam manter a guiada perfumada.”

Segundo os mestres mais antigos, uma arrumação chega a pesar hoje cerca de 30 Kg. Antigamente esse peso não chegava a 10 Kg.

O CABOCLO DE LANÇA

“ O Caboclo de Lança é o protetor de uma orquestra que mantém a sonoridade dos tempos antigos de um povo que perdeu seu cacique, e que , por isso, precisa de guarda. Ele dança para proteger os sonhos de seu povo e o seu território. O habitante da terra era guerreiro, mas recebeu o europeu em paz. Entretanto, o guerreiro armou-se para a guerra desde o momento em que percebeu que não seria possível uma convivência pacífica com aquele que chegou para colonizá-lo. [.....] Embora derrotado o longo das guerras, o guerreiro passou a ser protetor do seu grupo, da sua tribo mística. É isso que é apresentado quando o caboclo sai sozinho, ou no desfile do Maracatu.

Os moradores dos engenhos não vivem em “ parede de meia”. Casas conjugadas. Estão isoladas entre os caminhos de cana verde. Do meio do canavial foi se formando a brincadeira nos terreiros, locais de encontro, onde se mostrava a destreza dos movimentos e se confraternizaram os sentimentos dos homens. Com vestes diferentes de seu cotidiano, eles se transformavam em guerreiros que realizam lutas ancestrais. [.....]

Quando saía do canavial para a rua, o caboclo fazia medo. Parecia que o índio bravio estava de volta. A rua temia que esses homens das matas, dos canaviais, viessem a por em risco a tranqüilidade da vida urbana. Como reconheceu naqueles homens de rostos pintados e lança nas mãos os mesmos que, durante a semana, carregavam recados, cortavam cana, carregavam o caminhão, ou enchiam a jarra de água na cozinha da casa grande. [.....]

A BANDEIRA, O TERNO E O CABOCLO DE LANÇA

A BANDEIRA

“ A bandeira do maracatu é o seu cartão de apresentação e é um torno dela que a tribo se aglomera. Nela estão escritos o nome do maracatu, a data de fundação e o seu símbolo, toda a relevância possível lhe é dada. Quando o caboclo chega para unir-se a tribo, dob a direção do mestre, ajoelha-se diante da bandeira.

Se possível, a cada ano, é feita uma nova bandeira.” [.....]

O TERNO

“ O maracatu de Baque Solto também é conhecido como Maracatu de Orquestra. É outra maneira de diferenciá-lo do Maracatu de Baque Virado nascido nas áreas urbanas do Recife. Maracatu Nação é todo percussão. Mas, se olharmos bem, não é uma orquestra que acompanha o Maracatu Rural. Inicialmente tinha instrumento de sopro.[.....]

O instrumental é simples: como a porca, que é uma lata coberta com couro de boi, tendo uma madeira no centro. O som é tirado pelo movimento da maior do Tocador subindo e descendo com um pano molhado. O som depende bastante da munheca do tocador. [.....]

O mais popular, o surdo, também conhecido como bombo ou zabumba, está presente em todos os folguedos popular do Nordeste.

E tem também o Taró, também chamado Tarol, que é um tambor estreito percutido com duas baquetas. Todos os povos da floresta se comunicam com instrumentos semelhantes. Ele dá o ritmo, no que é acompanhado pelo gonguê.

Este último é o menos indígena desses instrumentos porque os índios não conheciam o metal.

O terno sempre existiu e depois é que vieram is instrumentos de sopro, o trombone e o piston. O ritmo do terno é rápido. Quase um só som, rápido, simples, como a vida de todo um povo. É difícil saber se os passos da tribo acompanham a música ou se a música corre atrás da tribo do maracatu.

Trabalho no pensamento. Ele tem que improvisar seus versos, suas loas. Caminha com um bastão (bengala), símbolo de sua autoridade. Este bastão pode ser enfeitado com fitas. Seu uso é um privilégio dos mestres. O mestre está sempre próximo a bandeira e ao terno.



A CORTE E AS BAIANAS NO MARACATU RURAL

“ No começo, o Maracatu Rural não possuía a corte, pois esta não existia entre os primeiros habitantes do Brasil. Foi trazida pelos europeus e pelos reinos africanos. Ela surge, gradativamente, no Maracatu de Caboclo ou de Baque Solto à medida que eles começaram a se apresentar no Carnaval do Recife, uma lembrança dos tempos em que houve a coroação dos Reis do Congo, nos pátios das igrejas das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. O cortejo da procissão, com a perda do prestígio e poder das irmandades, transformou-se no Cortejo da Apresentação do Maracatu nos Canaviais.

A presença de uma corte no Maracatu de Caboclos foi uma exigência da Federação Carnavalesca Pernambucana, pra que a Dança de Caboclos fosse aceita como Maracatu. [.....] As tribos caboclas aceitaram a corte para poderem desfilar no carnaval, o Maracatu Rural tinha que se adequar aos padrões dos Tradicionais Maracatus originários das irmandades que congregavam as comunidades negras do século XIX. Assim, os caboclos tinham que simular uma realeza. [.....] O povo caboclo assumiu mais esta influência e hoje j á nos acostumamos a ouvir que sem o rei e a rainha o maracatu não sai.

A Corte do Maracatu Rural tem o formato do Maracatu Urbano: um rei, uma rainha, a dama do paço, que tem a boneca em suas mãos, a dama do buquê, e o valete, cavaleiro que acompanha e protege a Dama.

[.....] Também se ouve dizer que maracatu só presta com baiana. Nos primeiros tempos sempre havia homens vestidos de mulheres. Assim, quando as baianas entraram no Maracatu com a corte, sempre eram homens vestidos de mulher. Hoje é difícil ver homens vestidos de baiana. Segundo Mestre Duda, as mulheres entraram primeiro no Maracatu Leão das Flores, do Mestre João de Lianda, entre 1955de e 1957, em Itaquitinga. Mas, como no Maracatu tudo é tradição oral, o caboclo Zé da Rosa diz a mesma coisa em relação ao Cambinda Brasileira de Nazaré da Mata.

AINDA SOBRE A ORIGEM E O SIGNIFICADO

O Maracatu de Baque Solto, a festa do caboclo, nasceu dizendo-se brasileira. Nele estão os índios, os negros, os brancos mais pobres, os mestiços.

O primeiro maracatu rural tem local e data de nascimento.

O mais antigo foi criado no engenho Olho D’água, em Nazaré da Mata (grifo nosso), no dia 10 de dezembro de 1914, num sábado, como diz Ernesto Francisco de Nascimento, o mais antigo dos caboclos. Era o cambindinha de Araçoiaba.

Quatro anos, depois, em 1918, no engenho Cumbe, em Nazaré da Mata, nasceu o Cambinda Brasileira. Sobre a importância de Nazaré da Mata relata Mestre Duda.

[.....] Porque Nazaré é o foco do Maracatu. É Nazaré. Esses sambistas de Recife.... quendo eu vejo aqueles veio pela calçada brincando de Maracatu.... Veio de onde ?

Nazaré. Nazaré. Nazaré. Nazaré.”

No início do século XX, Nazaré da Mata era um município muito grande, e dele surgiram Aliança, Condado, Buenos Aires,Carpina, Tracunhaém, Terra de Maracatus de Caboclos. Era uma festa de final de semana, após cindo dias de duro trabalho nos engenhos.

Se brincava todo sábado e todo domingo, depõe Zé da Rosa. Após uma semana no eito da cana era o repouso dos homens, o momento de lazer, de recomposição das energias e do treinamento das danças. Eram as sambadas.

Acompanhando os movimentos da sociedade brasileira, o Maracatu ia aos poucos, chegando ao Recife. Os donos de engenhos foram colocando os moradores pra fora e diminuindo o número, diz o caboclo Ernesto. Com os migrantes, o Maracatu foi ocupando as cidades e a capital enquanto se esvaziavam os engenhos da Zona da Mata Norte do Estado. A partir dos anos 50, os sons dos chocalhos passaram a fazer parte dos morros e de outras paisagens do Recife, que foi se tornando, desde então, o local para onde convergiram os caboclos.

[.....] “ Não, os caboclos de lança não são folclóricos. Caboclos de lança são recriações da história que os livros não ensinaram, pois os livros ensinaram a história que os dirigentes reconhecem como sua. Os caboclos de lança surgiram dos canaviais, como se gritarem que o sangue derramado por nossos antepassados para construir as riquezas de imensas casas grandes, belas capelas, continua a correr no sangue daqueles que, sem saberem, são índios. Mas índios que souberam, sob a maior repreensão sofrida por um grupo étnico no Brasil, adaptar-se e sobreviver no silêncio da história.”

“ DE VOLTA AO COMEÇO.


“Na festa e no amor a dança é sempre uma guerra feliz. De ritmo. De ordenamento de sentidos. Um êxtase físico e religioso. Por hipnose da música o tempo se transveste de espaço. Quem baila e brinca se iguala fingindo aos deuses, pois num instante é crê-se possível do mar o acaso. Como se o destino do homem fosse o Triunfo não o malogro. Se há um encantamento pelo riso como queria Klebhnikov há outro maior, pela dança.

Homens e corpos celestes se igualam na dança. Da emoção ao estado puro, matemática pura. É na dança que fica de uma vez por todas provado que o homem é a medida de todas as coisas. A cultura parece a natureza, a natureza semelha a cultura, num espelhamento que nada tem de narcísico, porque não é de admiração abismada, mas de comunhão de corpos. É pela dança que o todo e a parte sonham realizar o milagre da unidade que se move, como somente podem fazer o fogo e a água. A mesma embriaguez cadenciada da lua e de um dançarino, sendo que neste o maravilhoso é mais efetivo porque não obedecendo a bens naturais, mas a construção de símbolos, toda a cosmovisão que só pode existir na cultura.”

Pode-se contar a história dos encontros das culturas por diversos métodos, com incontáveis objetivos e resultados. Inclusive com algo mais amplo e difícil: o encontro dos ritos e dos ritmos de portugueses e espanhóis com indígenas, asiáticos e africanos.

[...] “Nas ruas memórias escritas no saber de crônica, o poeta Manuel Bandeira contou certa vez da sensação de medo que despertava nele a irrupção de danças, de sons como o Maracatu. Como destruir o elemento emocional, especialmente nas platéias cultas, ou pelo menos, no é impossível ficar indiferente a esse espetáculo é o que diz cada um dos que dele ocupam. Não somente como arte, mas como rito. Nos últimos anos, este último elemento tem prevalecendo menos, isto é, a formalização tem sido mais exercitada, no entanto sem público urbano. Nele o maracatu exerce primeiro em grande fascínio, depois pode fluí-lo como um tipo de produto reciclado...” [.....]

Mário Hélio – Jornalista e Escritor

SOBRE A ORIGEM E O SIGNIFICADO DO MARACATU

“ É uma brincadeira d origem indígena formada no início do século XX, nos canaviais da zona da Mata Norte de Pernambuco, região que assistiu, desde o início, a constante eliminação da primitiva população que ocupava aquelas terras. Este folguedo assume característica de uma festa indígena, uma desta de nativos das Terras Brasileiras, uma desta daqueles que foram perseguidos e escolhidos para deixarem de existir.

[.....] A festa de caboclo de lança foi se formando aos poucos, era um negócio de índio, pegavam um pedaço de pau para fazer a guiada, pegava a fazer batida num tambô, ajuntava gente, feito tibo.

O povo foi juntando um pouco de cada brinquedo, um pouco de Reisado, um pouco de Cavalo Marinho, um outro tanto de Bumba-meu-Boi e outro tanto de Caboclinho.

Uma festa de Celebração de um passado Guerreiro.

No começo era um brinquedo só de Homens. Brincadeiras de Cambindas, homens que se vestiam de mulheres. Dançavam de cócoras.

Aos poucos foi se formando o Maracatu. Uma reunião de caboclos, que não mais viviam nas tribos, mas formavam uma tribo a cada ano. Os encontros promoviam normas de convivência ao mesmo tempo em que serviam para demonstrar a destreza dos movimentos, com a lança e os pés. Os sons dos chocalhos já não eram suficientes e foi-se formando, então, uma pequena orquestra com instrumentos simples de percussão. Só depois veio o instrumento de sopro, ou, como se diz, o músico.

[...] O tempo e as autoridades passavam a chamá-los de Maracatu Rural, de Baque Solto ou de Orquestra. Era para diferenciar do Maracatu das áreas urbanas, do Maracatu que se formara com os negros de ganho de Recife. Na segunda metade do século XIX, já conhecido como Maracatu de Baque Virado.

[...]O Maracatu de Baque Solto nasceu nas encruzilhadas dos Canaviais, de um povo que não tem rei, mas que teima em mantê-lo vivo. Surgiu surpreendendo o mundo. É a festa dos caboclos de lança.”

Texto extraído do livro – Festa de Caboclos.