terça-feira, 16 de março de 2010

AINDA SOBRE A ORIGEM E O SIGNIFICADO

O Maracatu de Baque Solto, a festa do caboclo, nasceu dizendo-se brasileira. Nele estão os índios, os negros, os brancos mais pobres, os mestiços.

O primeiro maracatu rural tem local e data de nascimento.

O mais antigo foi criado no engenho Olho D’água, em Nazaré da Mata (grifo nosso), no dia 10 de dezembro de 1914, num sábado, como diz Ernesto Francisco de Nascimento, o mais antigo dos caboclos. Era o cambindinha de Araçoiaba.

Quatro anos, depois, em 1918, no engenho Cumbe, em Nazaré da Mata, nasceu o Cambinda Brasileira. Sobre a importância de Nazaré da Mata relata Mestre Duda.

[.....] Porque Nazaré é o foco do Maracatu. É Nazaré. Esses sambistas de Recife.... quendo eu vejo aqueles veio pela calçada brincando de Maracatu.... Veio de onde ?

Nazaré. Nazaré. Nazaré. Nazaré.”

No início do século XX, Nazaré da Mata era um município muito grande, e dele surgiram Aliança, Condado, Buenos Aires,Carpina, Tracunhaém, Terra de Maracatus de Caboclos. Era uma festa de final de semana, após cindo dias de duro trabalho nos engenhos.

Se brincava todo sábado e todo domingo, depõe Zé da Rosa. Após uma semana no eito da cana era o repouso dos homens, o momento de lazer, de recomposição das energias e do treinamento das danças. Eram as sambadas.

Acompanhando os movimentos da sociedade brasileira, o Maracatu ia aos poucos, chegando ao Recife. Os donos de engenhos foram colocando os moradores pra fora e diminuindo o número, diz o caboclo Ernesto. Com os migrantes, o Maracatu foi ocupando as cidades e a capital enquanto se esvaziavam os engenhos da Zona da Mata Norte do Estado. A partir dos anos 50, os sons dos chocalhos passaram a fazer parte dos morros e de outras paisagens do Recife, que foi se tornando, desde então, o local para onde convergiram os caboclos.

[.....] “ Não, os caboclos de lança não são folclóricos. Caboclos de lança são recriações da história que os livros não ensinaram, pois os livros ensinaram a história que os dirigentes reconhecem como sua. Os caboclos de lança surgiram dos canaviais, como se gritarem que o sangue derramado por nossos antepassados para construir as riquezas de imensas casas grandes, belas capelas, continua a correr no sangue daqueles que, sem saberem, são índios. Mas índios que souberam, sob a maior repreensão sofrida por um grupo étnico no Brasil, adaptar-se e sobreviver no silêncio da história.”

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