terça-feira, 16 de março de 2010

“ DE VOLTA AO COMEÇO.


“Na festa e no amor a dança é sempre uma guerra feliz. De ritmo. De ordenamento de sentidos. Um êxtase físico e religioso. Por hipnose da música o tempo se transveste de espaço. Quem baila e brinca se iguala fingindo aos deuses, pois num instante é crê-se possível do mar o acaso. Como se o destino do homem fosse o Triunfo não o malogro. Se há um encantamento pelo riso como queria Klebhnikov há outro maior, pela dança.

Homens e corpos celestes se igualam na dança. Da emoção ao estado puro, matemática pura. É na dança que fica de uma vez por todas provado que o homem é a medida de todas as coisas. A cultura parece a natureza, a natureza semelha a cultura, num espelhamento que nada tem de narcísico, porque não é de admiração abismada, mas de comunhão de corpos. É pela dança que o todo e a parte sonham realizar o milagre da unidade que se move, como somente podem fazer o fogo e a água. A mesma embriaguez cadenciada da lua e de um dançarino, sendo que neste o maravilhoso é mais efetivo porque não obedecendo a bens naturais, mas a construção de símbolos, toda a cosmovisão que só pode existir na cultura.”

Pode-se contar a história dos encontros das culturas por diversos métodos, com incontáveis objetivos e resultados. Inclusive com algo mais amplo e difícil: o encontro dos ritos e dos ritmos de portugueses e espanhóis com indígenas, asiáticos e africanos.

[...] “Nas ruas memórias escritas no saber de crônica, o poeta Manuel Bandeira contou certa vez da sensação de medo que despertava nele a irrupção de danças, de sons como o Maracatu. Como destruir o elemento emocional, especialmente nas platéias cultas, ou pelo menos, no é impossível ficar indiferente a esse espetáculo é o que diz cada um dos que dele ocupam. Não somente como arte, mas como rito. Nos últimos anos, este último elemento tem prevalecendo menos, isto é, a formalização tem sido mais exercitada, no entanto sem público urbano. Nele o maracatu exerce primeiro em grande fascínio, depois pode fluí-lo como um tipo de produto reciclado...” [.....]

Mário Hélio – Jornalista e Escritor

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